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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2003-08-21


 

O Alqueva

não posso deixar de comentar o que se passa com o Alqueva!

...

Ou melhor, eu nem comento, porque.... estou ainda sem palavras! Estarrecida!

Sim admiro-me o que lá se tem passado, porque apesar de já saber como o país funciona, existe sempre alguma esperança que melhore e nunca se esperam estes tipos de coisas! :(



O Desastre Confirmado
Por JOSÉ MANUEL FERNANDES
Domingo, 17 de Agosto de 2003

O trabalho hoje editado na PÚBLICA sobre o Alqueva confirma as piores previsões que, ao longo dos anos, os adversários do empreendimento foram alinhando. Corrijo: o que se está a passar é pior do que as piores previsões.

Sem ser exaustivo, recordo apenas algumas coisas que escrevi:

"O projecto do Alqueva, mesmo quando concluído, terá um impacto mínimo no aumento do produto agrícola nacional, ainda mais insignificante no PIB, gerará poucos empregos no Alentejo, tem uma valia agrícola duvidosa e uma valia eléctrica desprezível. Isto se tudo correr bem, isto é, se a barragem custar o que está orçamentado, se todas as obras complementares forem concluídas, se não houver atrasos." (Maio de 1993)

Numa altura em que as realidades da PAC ainda fazem duvidar mais da valia económica e agrícola deste projecto, não bastará, como foi dito no debate [integrado na Presidência Aberta sobre o Ambiente], "avançar, que depois logo se vê". Esse pode ser o erro fatal, o passo para o nascimento de mais um "elefante branco". Mesmo que não saibamos já desenhar um projecto alternativo, talvez seja altura de dizer, como José Régio, "não sei para onde vou, só sei que não vou por aí." (Abril 1994)

"Durante décadas ouvimos justificar [a obra] ora com base na valia agrícola, ora com base na valia eléctrica. De forma definitiva, os seus arautos previam que, se mais vantagens não houvessem, a sua construção iria dar emprego a uma população alentejana muito carecida. Viu-se - ou melhor, está a ver-se. Nas obras de Alqueva os "alentejanos" falam moldavo, ucraniano e romeno, raramente arranham o português." (Fevereiro 2001)

"Sem a rede de distribuição da água, o Alqueva é quase inútil, e construir essa rede é projecto para mais de vinte anos, a realizar muito provavelmente já sem os generosos dinheiros de Bruxelas. Depois ainda será preciso saber se o preço político a que a água será fornecida aos agricultores é interessante para as suas explorações. E se as culturas previstas para serem regadas ainda terão rentabilidade com uma PAC inevitavelmente muito diferente." (Fevereiro 2002)

Pouco depois de ter escrito este texto, em Março de 2002, a alguns dias das eleições legislativas que o PS perderia, o ministro Capoulas Santos quis demonstrar que os críticos do Alqueva não tinham razão (e de caminho ganhar alguns votos...), pelo que inaugurou com pompa a Infraestrutura 12 no primeiro perímetro de rega do Alqueva. Era um logro, pois a maioria da água continuaria a vir da velha barragem de Odivelas, mas revelou-se um logro muito maior porque duas campanhas agrícolas passadas ainda nem sequer um metro quadrado desse perímetro foi regado com um gota de água do Alqueva. Luís Miguel Viana explica porquê na PÚBLICA: por gravíssimos erros de projecto e por à EDIA faltar financiamento público em tempo de cortes orçamentais.

Resultado: a barragem existe há dois anos, centenas de milhar de árvores foram arrancadas na área a alagar, a albufeira até está cheia e já se tornou um local de romaria, mas continua a não servir para nada. Nada de nada. Hoje e, pelo menos, durante mais uns três ou quatro anos, segundo as previsões mais optimistas (mas também muito irrealistas).

O Alqueva é pois um monumento ao desperdício dos dinheiros públicos e um símbolo de como políticos embriagados pelo brilho da "grande obra pública" são perigosos. Perigosos e surdos, pois muitos avisaram muitas vezes. Com destaque para alguém que também andou anos a avisar sobre o que aconteceria à floresta portuguesa: Gonçalo Ribeiro Telles.

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