Lisboa que amanhece
Hoje Lisboa amanheceu diferente.
Começou tudo com um acordar estranho. As traseiras da minha casa dão para um espaço razoavelmente grande, que é o interior do quarteirão, como acontece em muitas outras zonas de Lisboa. Neste espaço repleto de árvores e pateos, o ruído da cidade é muito razoavelmente filtrado, pelo que foi com espanto que fui acordado por ruídos vindos daí. Eram melros. Diversos e num chilreado insistente. Foi quase como estar a acordar no campo. Mas eram 6.45h, pelo que o meu primeiro pensamento foi: «Porra, mas ninguém manda uma calhauzada nos sacanas dos pássaros?!»
No entanto, só depois me apercebi do motivo da algazarra inabitual. Chovia!
Não sou um particular apreciador de chuva, mas reconheço-lhe alguns encantos inegáveis, especialmente quando, como hoje, acompanhada de neblina. Deixa no ar um certo sentimento, difícil de colocar em palavras, mas que se traduz na vontade de vestir camisolas quentes, acender lareiras, ver o mar revolto e ler um bom livro. Na verdade, este tempo chuvoso faz-me desejar ir para o Porto, cidade que aprecio imenso e com a particularidade de ficar muito mais charmosa quando envolvida na neblina e em chuva.
No entanto, de volta ao mundo real, é terça feira, estou em Lisboa e tinha mesmo era que deixar a minha filha no infantário e vir trabalhar. Comecei assim a perder o entusiasmo inicial pela chegada da chuva. Filha ao colo, num braço, chapéu de chuva aberto no outro, a chave do jipe que cai na da poça de água quando a tentava tirar do bolso, a preocupação de perceber se o comando do alarme ainda funcionava, tudo sem deixar a rapariga apanhar chuva. AAARRRGGGHHH!!
Quero o verão outra vez!
Numa nota de rodapé, apenas o seguinte comentário:
Andar com o jipe só com tracção atrás nestas primeiras chuvas é fabuloso. Fiz três enormes slides. O primeiro, inadvertidamente, ao carregar no acelerador um pouco cedo demais na saída de uma curva, e os seguintes, propositadamente, ao carregar MUITO no acelerador no momento certo, para provocar um power-slide o mais longo possível.
Ok, provavelmente sou louco, mas pelo menos diverti-me bastante.