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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2003-12-30


 

Conto de fim de ano

Sentaram-se os dois no bar e ficaram calados a escutar John Coltrane. Nem quando o barman se aproximou e perguntou o que desejavam, conseguiram articular mais que um flute de champagne para mim e um Martini bianco para a senhora.

Assim ficaram largos minutos, a ver as pequenas gotículas que se formavam no copo de Martini enquanto agitava o gelo, ou as pequenas bolhas que subiam a dançar pelo flute. Pelas suas mentes passavam muitas imagens, que não se detinham com o fumo do ambiente, nem com os acordes de Art Pepper que as colunas gritavam.

Finalmente, a agitação ao seu redor torno-se demasiado óbvia para ser ignorada. Alguém gritava:

- 20, 19, 18,...

Deram as mãos em silêncio, por debaixo do balcão.

- ...14, 13, 12...

Ele apertou suavemente os nós dos dedos da mão dela e finalmente olhou-a nos olhos.

- 9, 8, 7...

Os seus rostos aproximaram-se e quando a multidão disparou num coro de gritos e de explosões de rolhas de champagne, estavam de novo em silêncio, mas desta vez abraçados num arrebatador beijo apaixonado.

Sorriram finalmente e levantaram-se para sair. Ela abriu a boca e desejou-lhe um óptimo 2001. Ele olhou para o barman e perguntou:

- Quanto é?
- Er... um conto. Um conto de fim de ano.

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