Conto de fim de ano
Sentaram-se os dois no bar e ficaram calados a escutar John Coltrane. Nem quando o barman se aproximou e perguntou o que desejavam, conseguiram articular mais que um flute de champagne para mim e um Martini bianco para a senhora.
Assim ficaram largos minutos, a ver as pequenas gotículas que se formavam no copo de Martini enquanto agitava o gelo, ou as pequenas bolhas que subiam a dançar pelo flute. Pelas suas mentes passavam muitas imagens, que não se detinham com o fumo do ambiente, nem com os acordes de Art Pepper que as colunas gritavam.
Finalmente, a agitação ao seu redor torno-se demasiado óbvia para ser ignorada. Alguém gritava:
- 20, 19, 18,...
Deram as mãos em silêncio, por debaixo do balcão.
- ...14, 13, 12...
Ele apertou suavemente os nós dos dedos da mão dela e finalmente olhou-a nos olhos.
- 9, 8, 7...
Os seus rostos aproximaram-se e quando a multidão disparou num coro de gritos e de explosões de rolhas de champagne, estavam de novo em silêncio, mas desta vez abraçados num arrebatador beijo apaixonado.
Sorriram finalmente e levantaram-se para sair. Ela abriu a boca e desejou-lhe um óptimo 2001. Ele olhou para o barman e perguntou:
- Quanto é?
- Er... um conto. Um conto de fim de ano.