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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2003-12-22


 

Um Natal diferente

Ao longo da minha infância, a larga maioria dos Natais foi celebrada em Lisboa, em casa de uns tios. Na verdade, no meu imaginário infantil esse é o verdadeiro Natal. Houve num entanto um ano em que passei o Natal no Alentejo. Foi um Natal na província e acima de tudo, um Natal diferente.

Lembro-me que partimos para Fronteira uns dois dias antes do Natal. Encontrei os meu primos de férias, tal como eu e imediatamente partimos para os campos.Estava um inverno particularmente frio e para além do habitual congelamento das poças de água, lembro-me que esse ano foi uma da poucas vezes em que vi o enorme tanque de rega do meu avô, congelado à superfície. Lembro-me que quase experimentei a sensação de cair para o fundo por um buraco no gelo, porque teimei com o meu primo que a fina camada de gelo suportaria o meu peso.

Ajudámos a minha avó e as tias a preparar os doces tradicionais de natal, numa azáfama à qual nunca antes assistira. Recordo como à noite de dia 23, as nossas roupas e cabelos cheiravam a doces fritos e de achar piada a isso.

O dia 24 amanheceu frio, mas logo cedo, eu e o meu primo vestidos a rigor, saltámos para o reboque do tractor e fomos com o meu tio buscar troncos de azinheira cortados, para a tradicional fogueira de Natal. Uma tradição que eu desconhecia. Quem já andou de tractor, percebe se eu disser que, não só perdemos a manhã toda nas viagens de ida e regresso, como que, o mais divertido foi mesmo andar aos saltos no reboque e atravessar a pequena ribeira enlameada que fica no meio da herdade.

A tarde foi passada com expectativa, não das prendas, mas da fogueira, dos doces e de todas aquelas coisas novas para mim. Finalmente chegou a noite e foi sem duvida uma consoada diferente. Passada entre a quente sala da lareira dos meus tios e o frio da rua; frio nas costas e nariz a queimar pelo calor de uma fogueira com chamas de vários metros, alimentadas pelos enormes troncos empilhados. À roda da fogueira, algumas pessoas cantavam, outras bebiam «minis», mas no seu geral, iam alternando uns minutos junto ao fogo com outros no quente das suas casas.

Ao contrário daquilo a que estava habituado, nessa noite não abrimos as prendas, antes depositámos os maiores sapatos que cada um conseguiu encontrar (eu achei umas enormes botas de borracha do meu avô) junto à chaminé e fomos para a cama mal contendo a excitação e a ansiedade pela manhã seguinte, quando finalmente poderíamos descer e ver o que estava dentro dos sapatos.

Foi sem dúvida um Natal muito diferente e, infelizmente, irrepetível.

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