A primeira
Ela tinha 14, não mais. Eu olhava-a já empoleirado na sapiência dos meus 15 anos acabados de fazer. Éramos colegas de liceu, mas só nos víamos nos intervalos das aulas.
Creio que foi ela a primeira a meter conversa. Eu tinha a timidez excerbada pelo (pouco) acne e sentia-me mais seguro a dizer piropos junto dos meus colegas que frente a frente com ela. Ela não. Tinha uma forma desconcertantemente directa de dizer as coisas e foi atrás do que queria.
Os primeiros olhares trocados no pateo, com a inocência de quem quer, mas não sabe muito bem o que fazer quando tiver. As conversas com os amigos ’Olha é aquela. A que está de azul junto à janela? Não, parvo, a de camisa rosa ao lado!’ o nervoso miudinho de cada vez que trocávamos olhares ou sorrisos à entrada do bar, as aulas inteirinhas a pensar nela e no que faria quando tivesse coragem de falar com ela, tudo isto faz parte da magia do primeiro namoro.
Um dia enchi-me de coragem e convidei-a para lanchar. A dureza dos primeiros minutos, em que há tanto para dizer mas as palavras nao saiem, torna dolorosos os momentos iniciais. As conversas atabalhoadas e sem sentido vão finalmente sendo substituidas por frases com nexo. Tentamos conhecer-nos melhor e disfarçar que o que verdadeiramente nos move na conversa é o vulcão pretes a irromper dentro de nós e que nos impele para o primeiro verdadeiro beijo e quando finalmente, ele acontece e nem acreditamos como nos deixa nas nuvens.
Os dias ou semanas que se seguem são vividos como se de uma embriaguez se tratasse. Andar de mão dada às escondidas ou à frente de toda a gente dependendo do local, beijos roubados nos intervalos, tão longos que ficamos roxos de falta de ar. A inveja dos amigos que não têm namorada, as palmadas nas costas dos que já têm, os primos que perguntam como é beijar alguém, as notas que se ressentem... tudo faz parte do primeiro namoro.
São momentos irrepetíveis e em muitos aspectos, ainda bem que assim é. Mas marcantes e que tentamos repetir tantas vezes quanto possível.