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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2004-03-26


 

O homem que não existia

Thierry desceu maquinalmente as escadas do metro da estação Edgar Quinet. Apanhou a composição absorvido nos problemas do dimensionamento dos vãos do tecto, no seu projecto. Entrou e ficou em pé, apertado no mar de gente, também calada, que preenchia a carruagem. Chegou a Boissière, e saiu para a rua.

Finalmente o frio e as luzes trouxeram-lhe de novo a consciência do mundo que o rodeava. As luzes e a agitação nas espalanadas chamaram a sua atenção, apenas para concluir que estava a chegar a primavera. Havia já imensos turistas, que riam alto e conversavam despreocupados em línguas que ele desconhecia.

Em passo apressado, caminhou os três quarteirões que o separavam do 43 da avenue Kléber, apenas abrandando para dizer boa noite à senhora Marrot, que passeava a irritante caniche. Deteve-se junto da pesada porta e procurou a chave.
- Raios! -lembrou-se que não tinha comida em casa- espero que a Amélie tenha deixado jantar feito.

Amélie era a empregada de Thierry, que fazia bem mais que aspirar e arrumar a casa. Geralmente era ela que o lembrava das compras e do que precisava comprar e nunca saía de casa sem deixar um simpático bilhetinho na porta do frigirífico com recomendações.

Entrou na cozinha e sorriu ao reparar nas 2 baguetes sobre a mesa. Ao menos tinha pão! Enquanto comia sentou-se na sala, a televisão como ruído de fundo e um livro de estruturas ao colo. Perto da meia noite foi finalmente deitar-se, tomando notas mentais para não se esquecer de ir às compras no dia seguinte.

O despertador marcava exactamente 3.27h quando o telefone tocou. Ensonado pegou no auscultador
- Sim?
- Precisamos de si aqui! Agora! Se não vier rápido, ela pode morrer... -desligaram.

Ainda sem conseguir estar completamente acordado, enfiou as calças, vestiu a camisa e o casaco e saltou para os ténis de correr. Correu pelas escadas e no momento que abriu a porta da rua, o frio acordou-o.
- Hey... mas para onde estou eu a correr? Que raio... nem tenho família em Paris... ela está a morrer? Mas quem?

(continua...)

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