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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2004-03-07


 

A praga cigana, ou How to bargain with gipsy people

Nota introdutória: já aqui tinha prometido há algum tempo que ia contar esta história, mas por falta de tempo não o tinha feito ainda. Como eu sou um gajo que falha mas não tarda, eis aqui o relato fiel da minha última aventura com uma cigana

Há dias tinha eu uma consulta nos HUC, como o mais certo era não arranjar estacionamento resolvi ir estacionar num parque de estacionamento que há lá perto. Quando lá cheguei, visão de horror! Que pode haver num parque de estacionamento pior do que um arrumador? Uma cigana!
- Dê-me uma moedinha!
Eu queria ver-me livre dela, peguei numa moeda de 1 euro (não tinha outra!...) e dei-lhe.
- Ai muito obridagaaaaa. Deus lhe dê munta sáudinha meu menino!
E depois veio a parte chata, a segunda vaga: O que pode haver num parque de estacionamento pior que uma cigana? Uma cigana que te quer ler a sina.
- Olhe o mê menino, dêxe-me lêr-la sina!
- Agora não que estou com pressa!
- Aaaaaaaaaaai! Dêxe-me lá lêr-la sina, home, que eu nã lhe fass'mal!
- Mas eu estou com pressa.
- Ande láaaaaa, ê na lhe lév'dinhêro nem nadaaa...
- Pronto, leia-me lá a sina, mas tem que ser coisa rápida que eu estou com pressa que tenho ali consulta no hospital.
- Olhe diz aqui qu'o m'nino é munto bom moço!
- Pois sou, pois sou...
- E diz aqui qu'o m'nino é munt'amigo dos sês amigos!
- Pois sou, pois sou...
- E diz aqui que há um amigo seu de há munto qu'já num é sê amigo e que lh'quer munto máli.
- Pois sou, pois sou...
- E que você tem munto mal de mau olhado.
- Tá bem, mas olhe eu estou com pressa!
- Ai que você tá todo cravadinho de mau olhado.
- Pois estou, mas deixe-me lá ir embora.
- Olhe qué a sério, home! Mas deixe lá qu'eu vou fazer-lhe uma reza hoje à meia nôte. Olhe se você ouvir uns barulhos esta noite à meia nôte sou eu que lhe tou fazendo uma reza... Mas olhe que olhando prá sua sina nã vai lá só com uma reza. Vai ter que ser cinco rezas. É Dez êiros cada uma, senhor!
- Errrr... Pois, tá bem, mas eu não tenho aqui dinheiro.
- Tem pois que ê tou vendo na sua sina que tem dinheiro na carteira.
- Pois tenho, mas é para pagar a consulta!!
- Vá, olhe que você tem munto mau olhado!

Pensa-rápido-pensa-rápido-pensa-rápido-pensa-rápido-pensa-rápido...
- Olhe, já sei o que vamos fazer. Eu vou à minha consulta e levanto dinheiro no multibanco do hospital, você até fica aqui ao pé do carro, quando voltar eu pago-lhe!

...


No regresso eu só pensava numa desculpa para dar à cigana. Chegado ao estacionamento, achei que estava com sorte: a cigana estava na outra ponta do estacionamento, com um bocado de sorte até podia ser que nem me visse.
Como eu estava errado. Ela viu-me! Mas de qualquer forma a trigonometria, a teoria da relatividade e basicamente toda as leis da ciência estavam do meu lado: eu estava bastante mais perto do meu carro do que ela por isso não havia como ela lá chegar antes de mim. Aprendi nesse dia que não se deve subestimar as capacidades duma cigana que quer cravar 50 euros a um incauto automobilista.
Chegamos ao carro praticamente ao mesmo tempo. Ainda assim levei uma ligeira vantagem. Estava já a entrar no carro quando a ouvi gritar qualquer coisa. Só tive tempo de por o carro a trabalhar, por a cabeça de fora e dizer:

- Olhe, sabe que mais? Rogue-me uma praga, sempre me sai mais barato!

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