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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2004-04-02


 

O menino do berlinde azul

Era uma vez um menino que gostava muito de jogar ao berlinde. Mas o menino era pobrezinho e não tinha berlindes, pelo que só podia jogar ao berlinde com os berlindes velhos e estragados que os outros meninos já não queriam. Mas o menino também era diferente dos outros por outra razão. Enquanto os outros meninos jogavam ao abafa para ganhar os berlindes uns aos outros e aumentarem a sua colecção, este menino era feliz com os seus berlindes velhos e estragados e nunca ficava com os berlindes dos outros quando ganhava. E o menino ganhava muitas vezes.

Os pais do menino gostavam muito dele porque ele era muito bem comportado e aplicado e só jogava ao berlinde depois de fazer os trabalhos de casa. Por isso mesmo o pai queria fazer-lhe uma surpresa e dar-lhe um berlinde novo e especial como o filho nunca tivera. Para conseguir isso, o pai deixou de almoçar durante 1 mês, juntando assim dinheiro suficiente para comprar um berlinde muito especial. Esse berlinde muito especial era um berlinde que tinha pertencido ao avô de um colega de trabalho do pai do menino, que tinha sido campeão mundial de berlinde há muitos anos.

E no dia de aniversário do menino, havia um pacote muito brilhante com o seu nome e um grande laço, um laço tão grande como o menino nunca tinha recebido nenhum igual. Depois de soprar as velas, o menino abriu a sua prenda e os seus olhos encheram-se de lágrimas. Era o berlinde mais bonito que já tinha visto. Azul como o céu, brilhante como uma estrela e veloz como o vento. O menino abraçou muito o seu pai pois sabia que tal prenda não teria sido fácil de arranjar e estava feliz e comovido.

E o menino passou a jogar sempre com o berlinde azul. E se com os berlindes velhos e estragados o menino ganhava muitas vezes, com o novo berlinde tornou-se imbatível. Nenhum amigo dele lhe conseguia ganhar. E vieram amigos dos amigos para o desafiar. E nenhum dos amigos dos amigos lhe conseguiu ganhar. E vieram meninos que nem o menino nem os seus amigos conheciam para o desafiar. E nenhum dos meninos que nem o menino nem os amigos conheciam lhe conseguiam ganhar.

Alguns dias depois, no caminho de casa para a escola, o menino viu um cartaz a anunciar um campeonato de berlinde, que iria juntar meninos da sua cidade e das cidades vizinhas. E decidiu participar.

No campeonato estavam presentes meninos de várias cidades, meninos que já tinham ganho campeonatos, meninos muito famosos, e o menino do berlinde azul. Na primeira fase do campeonato, o menino do berlinde azul, como sempre fazia, ganhou todos os desafios em que participou. E as pessoas começaram a perguntar quem seria aquele menino do berlinde azul. O menino, como tinha ganho todos os desafios da primeira fase, passou às meias-finais e foi jogar contra outro menino que também tinha ganho todos os desafios do seu grupo na primeira fase. E esse outro menino que tinha ganho todos os desafios até aí, não ganhou ao menino do berlinde azul. O menino do berlinde azul passou então à final onde ia desafiar o campeão. O campeão era um menino muito arrogante, que se achava melhor que os outros. E continuou a achar-se melhor do que outros, mesmo tendo perdido para o menino do berlinde azul. O menino do berlinde azul tornou-se o novo campeão e todas as pessoas admiraram a sua técnica e também a sua humildade e bondade. O presidente da federação do berlinde, um senhor muito bem vestido e muito bem-educado, entregou-lhe a medalha de campeão e disse-lhe que ele era o melhor e mais correcto jogador de berlinde que alguma vez tinha conhecido. O menino do berlinde azul estava muito feliz. Tinha o berlinde mais bonito e veloz e, com esse berlinde, era o campeão e o jogador mais admirado.

Algum tempo depois, o pai do menino foi para o hospital muito doente. Tinha problemas de saúde causados pela má alimentação. O menino ficou muito triste porque sabia que o pai tinha andado a alimentar-se mal para lhe poder comprar o berlinde azul. O médico disse que o pai do menino tinha que ser operado. A mãe não tinha o dinheiro para a operação e não sabia o que fazer.

Então o menino foi procurar o senhor bem vestido e bem-educado que era presidente da federação. O senhor recebeu-o e o menino contou-lhe a história e disse-lhe que queria vender o berlinde para ajudar a pagar a operação do pai. O presidente da federação comoveu-se com o amor do menino pelo seu pai, que o levava a vender sem hesitar o seu bem mais precioso e ofereceu-se para pagar a operação, na condição de o menino o deixar passar a ser seu treinador e representante.

O pai do menino foi operado e ficou completamente restabelecido. O menino passou a ser treinado pelo senhor presidente da federação e tornou-se o melhor jogador de berlinde de todos os tempos. E continuou a jogar sempre com o berlinde azul.

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