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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2004-04-16


 

O Monte

Desde sempre, ou pelo menos, desde tão longe quanto o consigo recordar, só consegui encontrar a verdadeira paz de alma a olhar as planícies alentejanas. Falo daquela paz em que conseguimos escutar os nossos pensamentos, arrumá-los em montinhos, deitar fora os velhos e estragados e ficar com espaço para os novos. Aquela que geralmente nos parece tão inalcançável como os sonhos.

Lembro-me bem de em miúdo conseguir fazer isso em poucos minutos. E tenho saudades desse tempo. Hoje requer algumas horas e tem a dificuldade adicional de ser difícil dedicar esse tempo, a actividades individuais de carácter tão pouco produtivo.

Mas eram bons momentos. Pegava na bicicleta e pedalava para longe, para o interior da planície sem fim . Depois parava, num monte qualquer, sentava-me e ficava a conversar com o vento. A escutar o seu murmúrio e a ver os cereais dançar suavemente, em ondas sem sentido. Ou se fosse no verão, observava as infinitas linhas traçadas no restolho pelas ceifeiras. E escutar o silênco era um bálsamo difícil de explicar, mas eficiente como poucos.

Ainda hoje o faço sempre que posso. Nem sempre de bicicleta, é certo. Por vezes caminho, horas se necessário for. E depois procuro o meu monte especial. E quando o encontro, imutável, forte e seguro, sinto-me reconfortado. Subo até ao ponto mais alto, com três azinheiras e um sobreiro e sento-me sob este último. Não consigo ter a mesma sensação tão inocente de felicidade, mas anda lá perto e é nesses raros momentos que percebo a pequenez dos nossos problemas diários face á beleza das coisas. E entendo que no fundo, sou um alentejano na alma.

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