Rubrica "o filme da minha vida": Hidalgo
Depois da trilogia do Senhor dos Aneis, Viggo Mortensen achou que estava pronto para altos voos. E Viggo não nos desiludiu, neste Hidalgo, onde aparece igual a si próprio no papel dum cavalo Mustang, filho duma índia Sioux e dum espanhol com quatro pernas, e que se entrega ao consumo de bebidas alcoolicas por se achar responsável pela morte de uns quantos índios com uma ferida no joelho.
Mas atenção que este filme não é só entretenimento. É também muita ciência e cultura!
Descobri ao ver este filme que em 1890 os árabes falavam todos fluentemente inglês. Tanto os sheiks com toda a sua família e servos quanto um guardador de cabras!
Descobri que os árabes naquela altura não dispensavam o chá, por isso era normalíssimo que, se participassem numa corrida de resistência de quase 5000 kms, levavassem um serviço de chá de porcelana na bagagem para assim poderem disfrutar dos prazeres duma bela bebida quente, saborosa e revigorante no meio do deserto.
Descobri que em 1890 os cowboys que participassem em corridas no deserto da arábia levavam com eles corda de alpinismo (!) para fazer laçadas pois nunca se sabe que perigos vão enfrentar. Outra particularidade dos cowboys dessa altura é o seu apurado sentido de orientação: estando no meio de nenhures a 1 milhão de quilómetros de nada apenas terão necessidade de usar a bússola uma única vez, e quando a corrida estiver a chegar ao fim (para mim o Hidalgo vinha equipado com GPS)
Descobri que uma tempestade de areia ultrapassa um cavalo a galope, a não ser que se chame Hidalgo, nesse caso dá-lhe tempo para se esconder nuns escombros no meio do deserto. E que apesar da violência da tempestade o transeunte pode seguir a sua viagem à vontade sem ficar soterrado por toneladas de areia. No entanto deverá sacudir o chapéu.
Descobri ainda que para chegar ao fim duma corrida de resitência de quase 5 mil quilómetros, o nosso cavalo deverá ter nome pois senão morre-se pelo caminho. A vitória desta corrida será sempre discutida ao sprint entre os três únicos cavalos que têm nome. E a vitória será sempre do cavalo que começou a galopar por último. Mas atenção que isto não é assim tão linear:
- O nosso cavalo deverá ter caido numa armadilha sendo trespassado no flanco por uma lança;
- A lança deverá ser tirada, abrindo a sangue frio um rasgo no flanco do cavalo com um punhal;
- A ferida deverá ser cicatrizada queimando-a usando a lâmina do mesmo punhal em brasa (não se preocupem pois os punhais made in america em 1890 não perdem a têmpera!);
- O cavalo (e cavaleiro) deverá depois estar a sofrer de desidratação, caido no chão, morribundo e a sangrar pelo nariz;
- O cavalo deverá ser ultrapassado pelos dois cavalos sobreviventes aos quase 5 mil quilómetros (os únicos cavalos com nome, portanto);
- O cavaleiro deverá tirar a sela do cavalo e montá-lo à boa maneira índia
- O cavaleiro deverá dizer ao ouvido do cavalo "Corre à vontade";
Então sim, estaremos aptos a vencer uma corrida com estas características.
Mas atenção, este filme não é mau de todo. É chato, é comprido e basicamente está um bocado mal feito, a não ser que sejamos americanos e estejamos a precisar alimentar o ego. Gostei da parte do filme em que explicam que não existe uma palavra em "índio" para cavalo, e que eles dizem "cão grande". Mas penso que não eram necessárias duas horas e meia para dizer isso.