SMO
Já há alguns dias que vos queria falar do Serviço Militar Obrigatório, ou melhor, do seu fim.
Há muito que se falava sobre o dia em que o SMO acabaria mas, finalmente, este mês a decisão foi tomada.
Acaba assim uma instituição na cultura masculina nacional. Um marco incontornável, quase um Bar Mitzvah, que marcava a passagem do mancebo a homem, daqueles com agá grande. Lembro-me bem do dia em que os mancebos nas terrinhas por este país fora iam às 'Sortes' - o nome popular da Inspecção médica - e em que no seu regresso as famílias dos apurados festejavam e as dos inaptos lamentavam a má sorte e tentavam confortar o mancebo, ferido de incapacidade física de aí em diante.
E os bons momentos de sã camaradagem que grupos de homems a dormir em camaratas e a tomar banho em duches em fila, proporcionaram, incutindo em gerações e gerações de portugueses valores másculos, como a tatuagem do coração no braço, cruzado por uma seta e ostentando o nome da amada, encimado por um Guiné 1969, ou ainda Angola 1967.
Pregunto-me como poderão hoje, num mundo frio, impessoal e em que os valores vigentes são o individualismo e a independência, crescer as gerações de mancebos. Como poderão tornar-se homens, dos tais com agá grande. Como será que vão perceber a essência da masculinidade lusa? O prazer do belo piropo atirado de dentro da guarita à moça loira que passa à frente do quartel, da cuspidela, de fumar um Kentucky sem filtro...
Quem mais senão os militares, poderá ensinar à juventude as virtudes de limpar uma G3, de disparar uma Mauzer e de engraxar e usar umas botas em que um se pode ver ao espelho?
Como podem os jovens de hoje, futuros homens do amanhã (ou da próxima semana, dependendo da idade) valorizar e acarinhar a cultura lusitana, se não ouviram o sargento a gritar às 5 da manhã para se vestirem e irem correr no meio da lama gelada?
São questões como estas que me preocupam e que me levam a crer que o sr ministro Paulo Portas vai perder muito com a saída dos belos rapagões de dentro dos quartéis.
O futuro o dirá.
PS: Esqueci-me de dizer... eu n fui à tropa, mandaram-me prá reserva.