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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2004-10-18


 

O dia do Juízo (parte I)

M. entrou na garagem e estacionou cuidadosamente. Apagou as luzes, desligou o carro e saiu. Já fora do carro, ajeitou a gravata vendo o seu reflexo no vidro da porta e dirigiu-se para os elevadores. Olhou para trás para se certificar que tinha deixado as luzes apagadas e acabou mesmo por voltar ao carro para confirmar que tinha trancado as portas. Estavam trancadas e dirigiu-se de novo para o elevador.

Esperou poucos segundos e entrou. Subiam já mais duas pessoas que M. cumprimentou sem expressão. Ajeitou o cabelo na parede espelhada do elevador e saiu no seu andar como fazia há 4 anos. Entrou na recepção e a a recepcionista abriu um sorriso e cumprimentou-o com um quente bom dia.

Abriu a gabardine e pegou na caçadeira Browning de canos serrados. Ainda antes de o grito que se formava na garganta da recepcionista sair, o tiro atingiu-a em cheio no rosto, arrancando o seu crâneo que ficou espalhado numa mancha disforme no grande painel roxo com o logotipo da empresa. Nesse momento alguém saiu a correr de um gabinete mas um disparo certeiro no peito fê-lo voar através dos vidros do gabinete.

Começaram então a ouvir-se gritos, o que o incomodou um pouco. Deu alguns passos em direcção ao corredor que dava acesso ao interior do escritório. Deteve-se junto à segunda porta onde ouviu choros, entrou e a directora de recursos humanos chorava e implorava M. que não a matasse, que tinha filhos. Ele encostou a arma à sua cabeça e espremeu o gatilho, deixando a alcatifa ensopada com uma massa branca e vermelha. Não conseguiu deixar de sentir repulsa, abanou a cabeça e em tom de suspiro exclamou - Este escritório está um nojo!

Seguiu de novo pelo corredor, encurralando sem saída todos os que àquela hora já estavam a trabalhar. Aproximou-se da zona de Open Space à esquerda do corredor. Duas colegas choravam sob o abrigo aparente de uma secretária. M. aproximou-se e disparou os últimos dois tiros. Uma delas continuava a chorar, mas agora gritava também, num volume que lhe fez doer a cabeça. Agastado, abriu a Browning e lentamente introduziu cinco novos cartuchos na câmara. Antes de terminar, um colega saiu de trás de um armário e correu passando por ele. Sem sequer pousar a Browning, M. levou a mão à gabardine e tirou a Glock 18C automática, virou-se. Dois estampidos secos e quase simultâneos abriram dois orifícios nas costas do colega, que foi projectado para a frente e embateu na parede. Dos dois orifícios saiam agora golfadas de sangue. Ele tentou levantar-se e arrastar-se, mas mais três estampidos deixaram-no de novo imóvel.

Enfiou a Glock nas calças e agarrou de novo na Browning de canos serrados. Aproximou-se da mesa onde a colega gritava, baixou-se e olhou-a no rosto. Pondo o dedo sobre os lábios fez-lhe - Shhhhh! Ela olhou para ele e pediu, - Pára M., não faças isto.

O brutal estrondo do chumbo a sair dos canos, perfurar o metal da secretária e alojar-se no corpo dela foi apenas o início de mais uma série de tiros, todos eles certeiros.

Por fim, olhando à sua volta, M. viu o rasto de destruição que deixara, os corpos, o sangue... escutou os gritos e ouviu sirenes a aproximarem-se. Sentiu náuseas de tudo aquilo. Pegou na Glock, encostou a boca do cano à têmpora direita e premiu o gatilho.

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