Considerações de um ressacado
Acordei sobressaltado; alguém abrira abruptamente as portadas da janela. Limpei a baba dos cantos da boca, abri os olhos e lutei contra o excesso de luz que me iluminava o interior do cérebro.
Lentamente fui fazendo a chech list do funcionamento dos órgãos vitais, depois dos músculos e por fim das cordas vocais:
- Foda-se!
Não é a palavra tipica que se usa habitualmente no início de um dia 26 de Dezembro, mas certamente é por hipocrisia. Tinha a boca seca, tão seca que rachei a língua ao dizê-la.
O System Check detectou ainda dores diversas espalhadas pelo corpo, com particular incidência na cabeça e seios peri-nasais. Gripe!
Levantei-me e percorri a curta distância até à caixa dos medicamentos; enquanto procurava alguma coisa que me deixasse minimamente pronto para mais um dia de overdose familiar e secasse o nariz que pingava, detectei também um enjoo irritante.
- Bolas, devo ter comido demais estes dias!
Munido de um copo de água e alguns comprimidos grandes demais para engolir ser ser dotado de habilidades de engolidor-de-espadas, fui até ao sofá e fiz o primeiro zapping do dia. Má ideia. O enjoo cresceu exponencialmente com as porcarias que davam na tv.
Banho! É isso. Um banho anima-me já e fico pronto para outra.... enfim, para outro Natal.
Encaminhei-me para a banheira, tentanto desesperadamente não sucumbir às pilhas de caixas de brinquedos em desalinho pelo chão, nem tropeçar nos kilómetros de laços de embrulho espalhados pelo chão, ou escorregar nos papéis rasgados... ufff.
Pensei no suicídio, ou num homicídio em massas, ou esfaquear a próxima pessoa vestida de Pai Natal que visse à frente. Depois, debaixo do chuveiro, enquanto a água quente me recuperava o corpo, tomei uma decisão. Não vou gostar de Natal nunca mais! Ou pelo menos durante 12 meses!