A China e nós
A propósito da visita do PR à Rep. Popular da China, lembrei-me do seguinte:
Sei que o que vou escrever é estranho, vindo de um gestor adepto dos sistemas económicos de mercado abertos e liberais qb.
No entanto, sou da opinião que a China em particular e os países do Sudoeste asiático em geral, deviam ter graves entraves à exportação para a União Europeia.
Atentem, não há contradição no que digo.
Nós - na UE - estamos a jogar um jogo (a economia de mercado) com um conjunto de regras iguais para todos. Há um certo número de regras laborais, como idades mínimas, salários mínimos, dias de férias e outros direitos irrecusáveis aos trabalhadores. Desse conjunto de regras, resulta um determinado nível de custos impossíveis de reduzir. Certo, não são exactamente os mesmos em cada um dos 25, mas são aproximados e consegue haver algum equilíbrio com a especialização de cada Estado-Membro nas áreas em que é competitivo (os famosos Clusters de Porter).
Ao abrir as portas aos asiáticos, em particular à China, estamos a sentar à mesa de jogo, com iguais direitos, um parceiro que não cumpre as regras. Tem menores a trabalhar, não tem salário mínimo, não oferece o direito a 25 dias úteis de férias e tem uma oferta de mão de obra infinitamente superior à procura.
Resultado? Vamos perder o jogo! Porque não tendo que cumprir as regras, vai oferecer preços - e qualidade - bastante mais baixos e arrasar por completo todos os sectores da acttividade económica em que a diferenciação se faça pelo preço.
Infelizmente para nós portugueses, o grosso da nossa actividade económica está aí. Temos essencialmente indústrias de bens em que o menor preço é o argumento de venda, como os têxteis.
Aos Alemães não fará grande diferença que os chineses comecem a vender carros a 4000Eur, já que os clientes da Porsche, Mercedes ou BMW (para dar apenas alguns exemplos) não vão deixar de os comprar por serem caros.
Cabe-nos perceber que se o mercado dos bens indiferenciados vai pertencer aos Chineses, devemos apostar nos bens e serviços diferenciados em que a qualidade valor acrescentado justifique um preço que não nos faça perder dinheiro.
É isto que me assusta nos nossos políticos. Isto que eu vos disse é óbvio, mas não vejo ninguém a tomar atitudes neste sentido