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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2005-03-31


 

Em reunião

- Olá, bom dia, como estás?

Sigo indiferente, aceno ligeiramente com a cabeça e avanço em direcção à máquina do café. Carrego no botão, preparo o copo de plástico e inspiro profundamente.

Olho em redor. Está escuro e a chuva lá fora faz um ruído ensurdecedor no tecto metálico. Suspiro de novo. Por não estar em casa, na cama, a recompôr-me de uma noite curta, demasiado curta; por estar aqui, contrariado, à espera de pessoas de quem não gosto, para uma reunião que não queria ter.

Um discreto beep indica que o café está pronto. Agarro no copo de plástico com uma mão.

- Foda-se!

Queimo o polegar e o indicador. Enquanto pouso o copo à pressa e deixo os dedos debaixo de água fria corrente, penso no quanto desejava gritar e ir-me embora.

Avanço por fim para a sala. Empurro a porta e constato que ainda ninguém chegou. Escolho uma cadeira, ligo o portátil e enquanto ele arranca encosto-me para trás.

De repente abro os olhos e estou enfiado numa camisa caqui, com umas caças largas com bolsos laterais, umas botas de montanha e um chapéu. Caminho sozinho, com um enorme cão de raça indefinida a meu lado. Está calor, mas não demasiado. Há no ar um cheiro a deserto. Sorrio. Não preciso esforçar-me muito para perceber que estou no Atacama.

Caminho em passos largos em direcção ao Jeep preto estacionado ali. Salto para o interior e o enorme cão acompanha-me. Rodo a chave e acordo o rouco 6 cilindros. Arranco e sinto um arrepio de prazer enquanto o vento semi fresco da manhã me acaricia o rosto. Afago o cão, que me corresponde com uma lambidela. Naquele momento tenho pena dos pobres infelizes que vivem enclausurados em escritórios, espartilhados por um fato e uma gravata, na insensata convicção de que a felicidade depende de mais uns euros ao fim do mês.

E rio-me, por me saber um deles.

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