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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2005-04-12


 

À beira-mar

Mete a chave à porta, roda-a e entra. Pára no instante seguinte, deixando aquele cheiro familiar entrar pelas narinas e atingi-lo no cêrebro. Não provoca dor nem prazer, simplesmente espalha milhares de recordações em desordem.

Sem saber bem porquê, recua e fecha de novo a porta. Sai em piloto automático, desce as escadas, sai para a rua e encaminha-se para a esplanada da praia da Bafureira. Caminha em passo acelerado, alheio a tudo. Segue apenas as suas pernas, os seus passos. Cumprimenta sem ter consciência, a vizinha do 2º direito, diz bom dia ao sr. Ribeiro da esplanada, procura uma mesa junto ao muro, frente às ondas e senta-se.

É arrancado deste transe pelo Sr. Ribeiro.

- Que vai ser hoje, senhor engenheiro?
- Olhe... um café. Duplo, por favor!

De novo volta a mergulhar na sopa de ficheiros, cada um com o nome de uma recordação escrito na capa, que voam sem sentido e o deixam amedrontado. Sente receio por não saber o que aquele cheiro despoletou.

Consegue ver medos passados, emoções, alegrias, esperanças.. consegue ver prazer, consegue ver dor. Mas... tudo isto não faz sentido.

Começa por não fazer sentido estar a entrar em casa, de fato, às 9.40 de uma manhã de terça feira. Não faz sentido um cheiro atingi-lo tão profundamente. Não faz sentido estar numa esplanada na em S. Pedro do Estoril, onde na verdade não vive há anos. Argh, é demaiado improvável que tudo isto esteja a acontecer.

- O seu café, senhor engenheiro.

A voz do sr. Ribeiro parece contradizer a sua tentativa de justificar isto como sendo um sonho. E o aroma do café, bem como o do mar, também o deixam sem dúvidas de que está acordado.

Volta-se para o mar e perde-se de novo. Desta vez contempla as ondas anormalmente grandes que rebentam nas rochas. Experimenta o prazer de inalar o cheiro a mar e a algas.

O seu olhar é conduzido para um vulto de dimensões consideráveis pouco abaixo da superfície, movendo-se velozmente de onda em onda. Então, num repente, o vulto ergue-se fora de água num salto brutal e ele apenas tem tempo de ver uma gigantesca mandíbula repleta de dentes afiados a vir em sua direcção e cravar-se no seu corpo.


Acorda ensopado em suor... levanta-se de um salto e olha a escuridão em seu redor. O coração bate dentro do seu peito com a força de um touro que corre pela vida. Senta-se e apoia a cabeça nas mãos, tentando recuperar o fôlego por este pesadelo sem sentido.

- Não acredito, que sonho idiota! Que susto, meu Deus!
- Não se preocupe, também me custou imenso ao início - diz uma voz vinda da escuridão.
- Quem está aí? - pergunta levantando-se da cama num salto.
- Sou eu, o Gepetto. És tu, Pinóquio?

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