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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2005-07-30


 

Pano do Pó, a autobiografia não autorizada

Cap. 4: Toni, o executivo

8 horas. Toca o despertador.

- Já??? Fod%-$#!! Fod%-$#!! Fod%-$#!! – pragueja Toni, enquanto tenta silenciar o despertador à força de pancadas desajeitadas, fraquinhas e mal direccionadas.
Progressivamente, Toni foi despertando no duche, à medida que a água quente caía no seu corpo desnudo e as suas mãos o percorriam sôfregas e carinhosas, acariciando e massajando algumas partes de forma mais aturada e cuidada. O pequeno-almoço ficou para outra oportunidade. “Como qualquer coisa depois no escritório”, pensou para os seus botões enquanto os acabava de apertar pelas escadas abaixo.

“Onde é que deixei ontem o bolinhas?”, pensou enquanto perscrutava rua em busca do seu VW Beetle amarelo. Encontrou-o alguns prédios ao lado e para lá caminhou, pisando pelo caminho um cocó do Bóbi, cão da D. Fátima do 2 F, que casou (a D. Fátima, não o Bóbi) com o Sr. Duarte, um agente da polícia quarentão que gostava muito de aviar minis com o Sr. Carlos do nº 76 no café do Sr. Mário (mas só às 3ªs, 4ªs e Sábados, que nos outros dias estava de turno e ao Domingo fica em casa com a esposa a ver o Herman SIC). Apesar disso, Toni só reparou no cocó quando o cheiro era já insuportável, derivado do facto de estar parado num semáforo, dentro do carro com as janelas fechadas e cocó bem espalhado pelo tapete do carro. Aparentemente (devido à fraca consistência do cocó) estava de diarreia (o Bóbi, não o Toni).

- Put% que par&@! Put% que par&@! Fod%-$#!! Fod%-$#!! Fod%-$#!! - (Toni praguejava muito, embora fosse algo limitado terminologicamente) – Estas merdas só acontecem quando um gajo está atrasado. Put% que par&@! Fod%-$#!! – (desabafo incorrecto, visto que situação semelhante tinha já acontecido o mês anterior, num Domingo em que Toni saía de casa perfeitamente descontraído e sem pressas. Mas adiante).

Quaise a perder os sentidos e ligeiramente indisposto devido ao mau cheiro, Toni (que, curiosamente, não tinha aberto as janelas do Beetle) tomou a única atitude racional e parou o carro para limpar o cocó dos sapatos com um pau, comprar o jornal do dia, deitar o tapete do carro para o lixo, tentar acabar de limpar os sapatos com o jornal, deitar fora os sapatos e o jornal, comprar outro jornal, voltar descalço para o carro e arrancar a toda a brida a caminho do escritório (abrindo desta vez as janelas).

Enquanto conduzia, com um olho (o esquerdo) na estrada e outro (o direito) nas vitrines das lojas por que ia passando à espera de encontrar uma sapataria, Toni ouviu na rádio uma notícia que lhe despertou a atenção. Mal encontrou uma sapataria, Toni (não desconfiando que dois polícias municipais vinham a dobrar a esquina) estacionou em segunda fila e foi procurar um sapato em tons de pêssego para combinar com a toilete do dia (que consistia num fato preto de corte simples, mas moderno, com camisa e gravata “ton sur ton” salmão). Como estavam em saldo, Toni acabou por comprar umas sapatilhas (ou ténis, como se diz na capital) DKNY azuis.

Quando chega ao escritório (e após ser gozado pelos colegas devido à cor das sapatilhas), Toni é informado pela sua secretária (Alice, 25 anos, longos cabelos loiros, olhos castanhos, ar espevitado e uns seios firmes bem empurrados para o decote pelo wonderbra) de que o cliente (e um dos principais clientes da empresa) das 9 horas tinha ido embora muito irritado com o atraso, reclamando em altos berros ao telemóvel com o chefe de Toni. Como que por coincidência, o chefe de Toni (Dr. Barbosa, 38 anos, cabelo grisalho curto, olhos castanhos e seios normais para homem) queria vê-lo no seu escritório.

- Put% que par&@! Put% que par&@! Que mais me pode acontecer hoje? – pensou Toni em voz alta (sem imaginar o que este dia ainda lhe reservava).

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