O desencantoÉ um espectáculo pouco agradável aquele que nos oferecem hoje os céus de Coimbra. O fumo negro originário da zona do Tovim e Olivais (próximo da mata de Vale de Canas) e da zona de Marco dos Pereiros (próximo do Hospital Psiquiátrico Sobral Cid) não escurece apenas o azul do céu, mas também o espírito das pessoas.
Não sei se é egoísmo, se simplesmente próprio da condição humana apenas ficarmos devidamente alertados para as coisas quando nos afectam directamente. O que eram apenas números e estatísticas tomam uma dimensão completamente diferente quando nos surgem ao alcance da vista ou do coração. O pouco que nos diz uma notícia de 100 hectares de pinhal ardido no outro extremo do país torna-se dramático quando vemos uma mata a arder à nossa frente. Tal como o número de pessoas que morre de sida todos os anos não significa nada até ser um amigo nosso que vemos a sucumbir à doença.
É por isso que pergunto: quantos mais hectares de pinhal e mata é preciso arder, quantas mais pessoas têm que perder as suas casas e o seu sustento, quantos mais bombeiros têm que morrer, quanto mais da nossa beleza e pulmão natural tem que desaparecer para que as autoridades resolvam com seriedade este problema?
Ou, deixando-me ser mesquinho, será que basta arder uma quinta de algum político, ou morrer um familiar de algum alto dirigente da administração pública para que essa gente tome a devida noção da catástrofe?