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Pano do Pó

Para tirar as coisas a limpo,
mesmo nos cantos mais difíceis.


2005-08-02


 

Pano do Pó, a autobiografia não autorizada

Cap. 5: Monty, o super-hyper-administrador de condomínios

Estava a ser um dia tramado. As obras do nº 84 estavam a demorar mais do que o previsto e os condóminos começavam a impacientar-se. Viravam-se para quem? Para o administrador do condomínio. O administrador do condomínio tentava explicar que as dificuldades com o empreiteiro tinham começado devido a algumas altercações com o casal do 2ºB e que este lhe tinha prometido que, apesar das confusões, as obras estariam terminadas até dia 23 e os andaimes deixariam de tapar o prédio e de dificultar a entrada para as garagens (cabiam quase dois camiões lado a lado na passagem, mas a senhora doutora do 4ºC insistia que tinha que ser hábil como o Schumacher para conseguir entrar com o carro.

No nº 32, as condóminas queixavam-se que a nova ucraniana que limpava as escadas do prédio fazia um trabalho miserável e que, assim, mais valia ninguém limpar nada. Monty sabia que o problema era a excessiva atenção que Zdenka (a ucraniana), com os seus 1,83m de altura, corpo de modelo, cara de boneca e intrínseca simpatia, despertava nos homens do prédio, mas lá disse que ia tentar arranjar outra pessoa, preferencialmente obesa, com falta de dentes e verrugas nas partes visíveis do corpo.

Monty foi jantar, esperando que a reunião do nº 44, marcada para as 21h, decorresse sem problemas nem demoras. E assim foi. Aprovaram as contas e o orçamento e decidiram manter o administrador para o ano seguinte. O dia foi longo, merecia uma noite longa também para contrabalançar.

Como não tinha amigos, monty decidiu ir tentar a sua sorte num bar de engate. Nunca tinha facturado nada, mas há sempre uma primeira vez para tudo. Pelo menos era o que monty repetia para si mesmo enquanto penteava o seu cabelo com brilhantina, colocava 7 gotinhas de old spice e o seu fio de oiro no pescoço, desabotoava a camisa da moda até quase ao umbigo e passava um pouco de brilhantina nos pêlos do peito.

- O que vai ser?

- Pode ser o teu número de telefone – disse monty, ao mesmo tempo que piscava o olhito à menina do bar. – Estava a brincar! Estava a brincar! – gritou monty quando a menina levantou o braço para chamar o segurança como sempre fazia quando lhe apareciam engraçadinhos. Teve sorte, e pagou 7 euros por um fino, e deixaram-no ficar no bar.

Passado algum tempo e 2 finos, 3 caipiroskas, 1 pisang ambom, 1 vodka melão e uma tequilla bum-bum, monty repara numa loiraça que entra no bar e se dirige ao balcão, bem junto a si. A loira pede um vodka laranja.

(...)

O sol já ia alto no céu quando monty abriu os olhos para logo os fechar de novo devido ao efeito de encandeamento. “Tenho mesmo que deixar de beber”, pensou, enquanto olhava à sua volta e via um imenso prado para onde não fazia a mínima ideia de como tinha ido parar. “Bem, pelo menos desta vez ainda tenho a minha roupa... e a carteira... e os órgãos todos”. Pensou para consigo, enquanto se levantava lentamente, coçando várias partes comichosas do seu corpo e espreguiçando-se em seguida. “Onde c@%@lho estou eu?” Nada do que via na paisagem à sua volta lhe parecia minimamente familiar. Os pontos de referência da cidade não se avistavam, nem o rio, nem sequer uma estrada alcatroada. “O melhor é pôr-me a caminho, mas para que lado?”

Começou a andar na direcção que lhe colocava o sol nas costas, poupando assim os cansados e sensíveis olhos de tão desagradável tortura. “Deixaram-me o rins e os órgãos todos, agora os meus óculos de sol que são realmente necessários é que nem vê-los”. Se monty tivesse tomada qualquer outra direcção teria encontrado uma estrada a cerca de 300 metros. Na direcção que tomou, monty atravessou campos e vales, quintas e caminhos e, 4 horas depois, finalmente encontrou uma estrada. Era uma estrada secundária, algo esburacada devido à falta de manutenção. Infelizmente, parecia muito pouco movimentada. Como é um pouco comunista (há uns tempos uma miúda disse-lhe que Marx e Trotsky eram uma ganda pedra e monty nunca questionou muito isso, tendo inclusive comprado várias t-shirts de um tal che que estavam em promoção na festa do avante), monty virou à esquerda e seguiu a estrada tentando encontrar uma povoação ou um carro que lhe desse boleia. Se tivesse virado à direita, monty teria andado apenas 600 metros até encontrar um café de beira da estrada (café do Sr. Xico, que servia um belo chispe, bem como vinho verde à pressão e o resto das coisas habituais). Como se armou em erquerdalhas, monty lixou-se e já andava há cerca de 1h 15min quando lhe apareceu o primeiro automóvel à frente. Monty fez sinal de pedir boleia e sorriu de forma amistosa, mas foi ignorado pelo condutor que não via ninguém nas bermas quando tinha a cassete do Tony Carreira a tocar no auto-rádio. Monty gritou algumas obscenidades, nomeadamente começando pelas letras f, c, m, p e fdp, atirou algumas pedras na direcção do automóvel que desaparecia no horizonte e acabou por se acalmar e resignar, continuando a caminhar em direcção ao desconhecido.

Andou durante mais 27 minutos até que, ao passar uma curva, avistou um clio cinza parado na berma. Os vidros estavam abertos e ouvia-se o som de “I will survive”, de Gloria Gaynor. Lá dentro estava refastelado um homem de cabelo revolto e barba por fazer há 4 dias que parecia apreciar particularmente a música que saía das colunas do leitor de Cds do auto-rádio.

- Tenho estado à tua espera.

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